Eu sou a palavra que transita
De teu olhar, a clara água.
Leve, breve e subtil a imanência
Do perfume.
Que na inocência do momento
Se entrelaça.
Ansiosas as mãos procuram
O delírio do olhar.
E o sol nos lábios nasce.
Sereno o rosto do dia, o hálito fresco
Do lírio, trespassando o aroma do beijo.
Tão branca a cal dos muros, onde o amor
Se inscreve insubordinado.
E o mundo tão grande e tão azul
Nas palavras reflectidas no murmurar dos lagos.
Hoje escrevo amor e visto solene traje
Para que o dia não morra até ao despir da noite
E fiquem espalhadas pelo chão
As roupas do nosso contentamento.
Joaquim Monteiro, in RIO DE DOZE ÁGUAS, 12 POETAS (Coisas de Ler Ed., 2012)
Arte por Leonid Afremov