Archive for the ‘José Luís Outono’ Category

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Janela corporal

Agosto 29, 2014

Abro a janela do teu corpo
Afasto as vestes dos teus cabelos
Acaricio os degraus do teu seio
E digo-te…
Vem murmúrio doce
A manhã é eterna quando se ama!

José Luís Outono, in Mar de Sentidos (Ed. Vieira da Silva, 2012)

Arte de Jan Delikat

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Gostaria tanto

Março 16, 2014

Gostaria tanto….
De tocar a superfície da maresia
Com as minhas mãos sedentas e sentir-te apelo…

Gostaria tanto …
De escrever-te pétalas tinta sorriso
E declamar-te com os teus versos partilha…

Gostaria tanto…
De amar-te murmúrio doce
Na tua entrega paixão querer de ti segredo nosso…

Gostaria tanto…
De dizer-te o que me queres soletrar
No prolongar infinito do teu enleio alma…trajecto redacção…

Gostaria tanto…
De ouvir as tuas canções nossas
E invejar o teu saber dizer de poemas versus coração…

Gostaria tanto…
De me render à tua “luta” apego
E ficar prisioneiro do único amor com o amor que entoas…

Gostaria tanto…
De nada saber e tudo me ensinares
No cultivar sólido de sabores teus…doados nossos…

Gostaria tanto…
De correr para ti…como menino carente
No fim de cada minuto saudade e sorrir no teu abraço abrigo…

Gostaria tanto…
De aprender contigo a moldar a cor do acto
E suspirar no acreditar da certeza página presente…

Gostaria tanto…
Que me escrevesses um poema silêncio
Em grito surdo de respiração suspensa …para lá do possível

Gostaria tanto
De nunca ter de conjugar verbo no passado
Porque a tua caligrafia semeia sempre futuro
em cada escrita dita…hoje presente…

Gostaria tanto…
De chorar …apenas para apagar vulcões de êxtase
Que me dás em oferta solta almejo de vida sempre a colorir…

Gostaria tanto…
De dizer-te paixão…com um obrigado abençoado…
Porque se Deus existe…tu és o Universo da felicidade…

Gostaria tanto…
De nunca findar este caminhar a dois
Onde exigisses amor com amor…até ao beijo final….

Gostaria tanto…
De dizer tanto…e tanto ouvir…
No tanto que há para viver…no tanto que há para amar…no tanto que há para dizer

Gostaria tanto…
De não te conhecer…e puxares a minha mão
Para te conhecer e percorrer estrada rio… nascente foz… mar… horizonte…sofreguidão conhecimento…o teu jardim…

Gostaria tanto…
De ouvir a tua verdade…nas verdades que tens…
Bálsamo fidelidade…código único…

Gostaria tanto…
Que a única diferença de sermos…fosse a interpretação
Homem …mulher…nunca o esgrimir
posições …porque somos…

Gostaria tanto…
De acordar…com o teu acordar…
E sentir-me com o teu acordo do acordo que rubricámos…

José Luís Outono, in Da Janela do meu (A)Mar (Ed. Vieira da Silva, 2011)

Arte por Albena Vatcheva

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Sem pecado

Dezembro 29, 2013

Pequei…
Num momento
Em que perdi o teu olhar
E esqueci-me
Do mar suave
Beijo… sempre.
Pequei…
Sem pecado
Na dor de sentir
Como vela aroma
Que escureceu
No mirrar do caminho.
Pequei…
No cair de um abraço
No rasgar de um dizer
No escrever sem fim
No trovão da quebra
Pequei… apenas… sem pecado!

José Luís Outono, MAR DE SENTIDOS (Ed. Vieira da Silva, 2012)

Arte por Fabiano Millani 

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Quarto de Lua

Agosto 24, 2013

Disseste-me um segredo baixinho

Envolveste-me em noites de luar amigo

Num odor de palavra jasmim

Em convites de seda doce

Em sorrisos de cantos (e)ternos

Em maresias de noites simples

Em estendais de poesia livre

Em flor constante… que partes

Na chegada próxima…

Onde desespero

E já te aguardo!

José Luís Outono, in MAR DE SENTIDOS (Edições Vieira da Silva, 2012)

Imagem: Christine Peloquin

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No adormecer do teu olhar

Julho 14, 2013

No adormecer dos teus olhos azuis
Escondo as minhas noites luar
Céus perdidos de marés livres
Quebranto de sonhos por querer
Adornos de leituras por escrever
Arejos de fruta doce rendida
E um favo de sementes meladas.

Na calma fugaz…encontro-te
No meio de palavras brandidas
Por entre traços de pontes carentes
Vejo-te névoa tangente de sobressalto
Destino esvoaçante a manejar
Entrega ao romanceiro da saga dormente
No caviloso som da denúncia.

Meu querer…meu amor…meu compasso
Julgo-te força estranha suave
Colírio sussurrante cristalino
Deusa, epíteto meigo e penetrante
Carisma solto e pautado costume
Derrame de essências marcantes
Brisa queixosa de saudades.

Grito-te, vida de falas juntas
Vícios meigos de abraçares redutos
narrativas inundantes de lágrimas seda
Porção de soros turvos amendoados
Espiral de linhas de fulgor correntes
Montanhas de aromas sólidos fortes
Arco-íris vivo de cores beleza.

Fonte nobre, clareira ávida
No espaço do teu couto verdejante
Anexo a minha credencial isenta
Remeto-te o meu dote infinito
na troca do teu indelével merecimento
Convite testemunha sem predicado
Porque vaidade, é o orgulho de te receber.

José Luís Outono

Imagem: Lutz Baar