O ar, amor —
este ar que eu te respiro.
Soares Feitosa
Imagem: Jean Bailly
O ar, amor —
este ar que eu te respiro.
Soares Feitosa
Imagem: Jean Bailly
Jamais eu ficaria quieto
sob o teu olhar;
que muito menos quietos,
no direito de ir e vir,
sobre o teu corpo,
seriam os meus olhos lívidos.
Porque sobre mim,
bastam os sons
dos teus vestidos:
já me desvestem a alma.
Soares Feitosa
Imagem: Gilles Cotelle
Não lavei os seios
pois tinham o calor
da tua mão.
Não lavei as mãos
pois tinham os sons
do teu corpo.
Não lavei o corpo
pois tinha os rastros
dos teus gestos;
tinha também, o meu corpo
a sagrada profanação
do teu olhar
que não lavei.
Nem aqueles lençóis,
não os lavei,
nem os espelhos
que continuam
onde sempre estiveram:
porque eles nos viram
cúmplices, e a paixão,
no paraíso,
parece que era.
Lavei, sim,
lavei e perfumei
a alma, em jasmim,
que é tua, só tua,
para te esperar
como se nunca tivesses ido
a nenhum lugar:
donde apaguei
todas as ausências
que apaguei
ao teu olhar.
Soares Feitosa
Arte de Pascale Pratte