Era uma flor
De uma só cor
Era apenas uma rosa
Era uma só palavra
Que fora guardada
E enviada
Como se fosse em prosa
Mas era poema
Era verso de Amor.
José Gabriel Duarte, in As Cores do Desejo, Versbrava Editora, 2014
Arte de Silvia Blanco
Era uma flor
De uma só cor
Era apenas uma rosa
Era uma só palavra
Que fora guardada
E enviada
Como se fosse em prosa
Mas era poema
Era verso de Amor.
José Gabriel Duarte, in As Cores do Desejo, Versbrava Editora, 2014
Arte de Silvia Blanco
Eram dois
dois corpos entrelaçados
que se amavam
Eram como feixes de luz
que se cruzavam
Eram como fios de vida
que se atavam
Eram dois
dois corpos ligados
que se libertavam
Porque tudo o que dantes
entre eles
eram fronteiras,
sombras e barreiras
Naquele instante
os dois fogosamente
dentro e fora deles
atravessavam…
José Gabriel Duarte, in As Cores do Desejo
Arte de Inna Tsukakhina
Não sei quem desenhou o Sol,
se foi a Lua,
se foste tu
Não sei quem o pintou,
se foi uma nuvem,
se foste tu
Mas o céu ficou mais azul
O dia ficou mais dia
Nele eu conheci poesia
E foste tu…
José Gabriel Duarte, in As Cores do Desejo (a publicar)
Arte por Alice Vegrova
Adormecemos
na serenidade dos mares,
como peixes descuidados
anémonas de mão dada,
espelhados e quentes
e sonhamos enrolados nas algas.
Erguemos castelos de confiança na areia
com grãos de certezas,
de mudança…
Levantamo-nos devagar,
ausentes e pouco despertos,
tantas vezes perdidos,
sofridos,
por ventos varridos,
que nos sopram dúvidas,
nos cobrem de ondas de nudez,
nos fazem submergir
até ao fundo do abismo
dos receios e dos perigos,
onde crescem
as algas descoloridas
das incertezas …
José Gabriel Duarte e Lília Tavares (a publicar)
Arte por Carlos Valença
Amo-te com todas as letras
Mas não sei como as usar
Oiço-as em surdina
Trémulas, receosas
Em vez de as gritar!
José Gabriel Duarte
in NO OUTRO LADO DE MIM (Chiado Ed., 2012)
Arte por Hélène Terlien
Gosto de passear na tua sombra,
poder te ver, sem tu me veres,
de estar contigo, sem tu saberes,
Gosto de me esconder na tua ausência,
de ser teu sonho, sem me sonhares,
viveres comigo, sem o julgares,
Gosto de me enlear na tua teia,
de ser teu cúmplice, sem que me prendas,
ser teu escravo, sem que me vendas,
Gosto que gostes de ser viagem,
e ao me encontrares,
eu ser paragem…
José Gabriel Duarte, in RIO DE DOZE ÁGUAS, 12 POETAS, (Coisas de Ler Ed., 2012)
Imagem: Janda Zdenek
Não sei como te olhar
talvez como um livro
um romance apetecido
uma história de amor
Ou talvez um sonho
uma miragem
ver um jardim
onde tu és
flor…
José Gabriel Duarte
Imagem: Anna Razumovskaya
Por vezes a tua voz
E as tuas mãos
Aquecem-me
Acendem-me
Quando me tocam
Quase me despem
Depois basta-me uma só palavra
Um sorriso
Um pequeno gesto
Ou até mesmo
Apenas o silêncio
O estares tão perto
Talvez porque ainda te oiça
Já sem ouvir-te
Talvez porque já te sinta
Sem ainda sentir-te
E então
Durante esse teu oferecer
Por vezes
Anoitece
É quando tudo
O tudo entre nós
Acontece…
Quase sempre.
José Gabriel Duarte
Imagem: Francis Killian
Quero ler-te
Lentamente
Verso a verso
Como se fosses poesia
Quero sentir-te
Lentamente
Gota a gota
Como se fosses maresia
Respirares-me
Boca a boca
Lentamente
Como eu queria.
José Gabriel Duarte
Imagem: Connie Chadwell