Archive for the ‘Felisteu’ Category

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Assassinei a minha poesia

Março 5, 2013

Fui pensador do absurdo e da utopia,

Cavaleiro da dimensão do nada,

Patética visão duma alvorada

Já com sintomas de esquizofrenia.

Pra me livrar do mal que me afligia 

Joguei fora os fermentos da emoção

E esta minha poética ambição

Por falta de talento apodrecia.

E depois, de com um tiro certeiro,

Destruir a caneta e o tinteiro,

Num assomo de dor me arrependi,

Ao ver a rubra tinta ainda a escorrer

Com poemas bonitos por escrever

Versos de amor guardados para ti.

Felisteu

Imagem: Nicole Morin

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Primeiro encontro

Fevereiro 18, 2009

Veio da virtual imensidão

Como quem sai dum sonho ao acordar.

Ofereceu-me a face, para a beijar,

Com o rubor feliz duma emoção.

Convidei-a prá minha refeição.

E as velas sobre a mesa do jantar

Brilhavam no azul do seu olhar

Como estrelas no Céu duma ilusão.

O que comemos? Sei lá se comemos,

Que em profundos olhares nos perdemos

Como quem enlouquece a pouco e pouco.

Nem sei sequer se lhe falei de amor

Nesse meu derradeiro esplendor:

Última lucidez de quem está louco.

Cândido Felisteu

Imagem: Alexander Klevan

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Marcas de batom

Fevereiro 17, 2009

Avermelhas

As minhas ideias

Quando passas

Nas teias

Que teço

Quando não adormeço.

E ateias

Fogueiras

Com que incendeias

As lareiras

Onde arde a emoção,

Em forma de mulher,

Dum poeta

A enlouquecer.

O dia escureceu

E o poeta louco

Adormeceu…

E sonhou

Que o rubro lençol

Onde dormiu,

Não era o dele,

Era o teu.

E de manhã, quando acordou,

Ao ver-se ao espelho,

Viu na face, marcas

De batom vermelho,

Da boca com que sonhou.

Cândido Felisteu

Imagem: Tamara de Lempicka

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Sopa de Mulher

Outubro 14, 2008

Sopinha de mulher, ingredientes:

Um pouco de batom de qualquer cor,

A boca entreaberta, como a flor,

Dois olhos luminosos das serpentes.

A brancura sem mácula dos dentes,

Um sorriso temperado de sol-pôr

Regue abundantemente com amor,

O fogo deve ser dos mais ardentes.

Nas palavras um pouco de picante

Não o da esposa, antes o da amante.

E ponha tudo isso a ferver.

Acenda umas velinhas de alegrias

Junte algumas bonitas fantasias

E a sopinha está pronta pra comer.

Felisteu

Imagem: Carol Carter